Dizem por aí que Martin Luther King Jr. não se preocupava
tanto com o grito dos desonestos, dos corruptos, dos violentos ou dos sem
ética; o cara se preocupava mesmo era com o silêncio dos bons.
Num bairro de classe média paulistano, duas farmácias
disputavam livremente o mercado dos sem-saúde. Adam Smith não imaginaria harmonia
maior.
Cada comércio era dirigido por um farmacêutico devidamente
habilitado. Em princípio, esse profissional é responsável por orientar e
acompanhar os clientes, que chegam com prescrição médica, quanto às formas de
utilizar a medicação, possibilidade de efeitos colaterais etc.
Porém, a precariedade dos sistemas de saúde e a cultura
brasileira da automedicação faziam com que os clientes pedissem muito mais de
nossos personagens. Dor de cabeça, dor nas costas ou espinhela caída, e lá ia o
povo procurar um dos farmacêuticos. Eles eram uma forma rápida e fácil de consultar
um “doutor”, e tinham a vantagem de já ter à mão o remédio respectivo para cada
enfermidade.
Ocorre que, na farmácia A (nomes foram alterados para
proteger os inocentes), o “doutor”-farmacêutico era dos melhores. Muito
inteligente, se formou numa grande universidade, com ótima colocação na turma,
fez pós-graduação, vivia se atualizando. Ele sabia exatamente quais eram suas
atribuições profissionais, e resumia-se a elas: “A senhora deve procurar um
médico. Eu não posso ‘dar uma olhada’ no furúnculo que nasceu em seu traseiro.”.
Com isso, em nome da correção e da ética, frustrava a expectativa de sua
clientela.
Na farmácia G, quanta diferença... O profissional não era lá
tão brilhante, mas não havia queixa que deixasse passar. “Onde dói? Começou faz
tempo?” – e atendia a todos com um largo sorriso, sempre concluindo com duas
ou três caixinhas sobre o balcão: “A senhora tome direitinho. Deve melhorar.”. Do
ponto de vista ético e legal, era uma farsa e um perigo à saúde pública. Mas o
povo o amava.
Tem duas semanas, a farmácia A fechou as portas. Seu
farmacêutico procura emprego, e aceita propostas em outras áreas.
A farmácia G?
Vai muito bem, obrigado.
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